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A ÁRVORE DOS SAPATOS

- PLANTANDO LEITURA E SEMEANDO LEITORES

Autora

Tais Minae Gomes Massuda

Escolas

E.M.E.F. Jandira Luisa da Silva;

E.M.E.F. Paula Martins Pereira

Resumo

O projeto surgiu a partir de uma contação de história africana “A Árvore dos Sapatos”. Eu e as crianças entramos no mundo do “era uma vez”. Nos inspiramos e transformamos o pé de Jambolão em uma majestosa árvore recheada de histórias, que foram brotadas dos variados tipos de sapatos, cada qual com seus relatos e causos de onde passaram. Histórias de vida, das famílias e da comunidade, com suas peculiaridades e culturas próprias, valorizando a cultura local.

A praça Argemiro Pacheco de Souza, localizada em frente à escola Jandira se tornou um lugar convidativo para todos que quisessem se deleitar com a leitura das histórias, na sombra fresquinha da Árvore dos Sapatos. Sendo assim, plantamos leituras  e semeamos leitores.

o o ano letivo.

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Justificativa

Quando a criança tem contato com a história que está sendo contada, já recebe estímulos que a levam a uma viagem à sua própria imaginação, educando, instruindo e desenvolvendo habilidades cognitivas, tornando o processo de leitura e escrita algo dinâmico. Por ser uma atividade interativa, potencializa a oralidade.

A linguagem oral é uma das mais antigas formas de comunicação existentes. Antigamente, era comum as pessoas se reunirem em volta da fogueira para contar histórias, que eram passadas de geração em geração, preservando velhas tradições e costumes. Diante dessa afirmação, é de suma importância resgatar nossas memórias culturais e afetivas, fundamentais para descobrir quem somos.

Esse projeto tinha como objetivo trabalhar com a contação de histórias de forma lúdica, despertando na criança o gosto pela leitura de maneira prazerosa, enfocando a valorização das raízes, conhecendo a identidade de cada um e desenvolvendo respeito pela diversidade. Com as atividades propostas, proporcionei o desenvolvimento de algumas competências e habilidades previstas na BNCC para essa etapa da vida escolar, como:

-  Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável,

heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem.

- Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo.

- Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso  estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.

 

E as habilidades trabalhadas foram:

 - Formação do leitor - Selecionar livros da biblioteca e/ou do cantinho de leitura da sala de aula e/ou disponíveis em meios digitais para leitura individual, justificando a escolha e compartilhando com os colegas sua opinião, após a leitura.

- Compreensão - Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.

- Estratégia de leitura -  Inferir informações implícitas nos textos lidos.

- Escuta de textos orais - Escutar, com atenção, apresentações de trabalhos realizadas por colegas, formulando perguntas pertinentes ao tema e solicitando esclarecimentos sempre que necessário.

- Compreensão de textos orais - Recuperar as ideias principais em situações formais de escuta de exposições, apresentações e palestras.

- Planejamento de texto oral / Exposição oral / Performances orais - Expor trabalhos ou pesquisas escolares, em sala de aula, com apoio de recursos multissemióticos (imagens, diagrama, tabelas etc.), orientando-se por roteiro escrito, planejando o tempo de fala e adequando a linguagem à situação comunicativa.

 

Desenvolvimento

O fruto dos nossos passos é a história que construímos. E existe um lugar onde essas histórias dão em árvore, ele fica no tempo do “era uma vez...”; calçamos nossos sapatos, eu e as crianças das turmas de pré-escolar, primeiro e segundo ano, das EMEF Jandira Luisa da Silva e Paula Martins Pereira, em Garopaba, e vivenciamos o encantamento da deleitosa história africana “A árvore dos sapatos”. Trouxemos na bagagem a inspiração para realizar na nossa comunidade um movimento de valorização da cultura local, e o objeto que se tornou  precioso esteio de relatos e causos foi o nosso humilde sapato.

No primeiro dia de aula do ano letivo, na aula de contação de história, ministrada por mim, antes mesmo que soubéssemos os nomes uns dos outros, lancei uma ideia mirabolante para as crianças e pedi que pensassem a respeito – imaginem uma história que se chama “A árvore dos sapatos”, vocês conseguem-me dizer sobre o que será contado? – assim, com esse primeiro desafio, embarcamos na nossa jornada. Listo abaixo as respostas que surgiram deste primeiro momento:

• Era uma árvore que tinha forma de sapato;

• A árvore dava frutos em forma de sapato;

• A árvore foi plantada dentro do sapato;

• Era uma árvore que usava sapatos;

• Porque o menino subiu na árvore e pendurou seus sapatos nela;

• É porque árvore tinha chulé;

• Porque lavaram os sapatos e deixaram secando na árvore;

• A árvore tinha muitas pernas e usava sapatos;

• Porque na árvore morava um gnomo que vendia sapatos.

O misterioso momento da hora da história então iria começar. Preparei-os em círculo e expliquei que agora o momento era de ouvir, pois descobririam a razão do nome da história. Assim a história foi brotando, tal qual planta em um jardim, os pequenos atentos com seus olhos brilhantes foram receptivos a cada palavra narrada e ao fim estavam envolvidos completamente. Com isso parti para o terceiro momento: vamos nos conhecer! Cada um de nós apresentou-se, por nome e contando um pouco da história dos nossos sapatos, por quais caminhos já havíamos caminhado até chegarmos ao nosso encontro. O período terminou por aqui, mas o grupo de crianças agora era terra fértil para a semente da árvore que brotaria e seria regada a cada novo encontro, com novas histórias, as histórias de vida das famílias, com suas peculiaridades e culturas próprias.

Os próximos dez encontros sempre começavam com a preparação das crianças para ouvir as narrativas que eles mesmos trouxeram. A dinâmica foi constituída da seguinte forma: a cada aula duas crianças traziam um sapato velho e sem utilidade e contavam a história dele, da maneira como ouviram ela ser contada, por suas famílias, ou vizinhos, ou professores, ou seja, por qualquer um que doasse um sapato com a história. Após a narração de cada criança, o sapato que foi trazido ficava na escola para que eu escrevesse a história contada e colocasse dentro dele e, no dia da conclusão deste projeto, todos fossem pendurados na árvore escolhida. Os causos dos sapatos foram inúmeros, tivemos sapatos de casamento, de nascimento, de viagens, de praia, de pescador e agricultor, coisas do dia a dia - saltos quebrados, tropeções, tombos e resvalões.

A finalização do projeto aconteceu embaixo do pé de Jambolão, na praça em frente à EMEF Jandira Luisa da Silva. As crianças da EMEF Paula Martins Pereira, que também caminharam por essa história, vieram até ali (de ônibus!) para o tão esperado momento da partilha, foi uma festa. Equipe escolar, famílias convidadas, comunidade que se envolveu entraram na roda para ouvir e contar suas histórias. Pela manhã e pela tarde, a pequena praça viveu a graça do “Era uma vez” e todos ali se sentiram parte da história que motivou todo o projeto   - A árvore dos sapatos - Plantando leitura e semeando leitores.

 

A Árvore dos Sapatos

Mia Couto

 

Muito longe daqui, ao sul da África, não muito tempo atrás, vivia uma tribo que não usava sapatos. Pra que sapatos? Se a areia era macia, a grama também. Mas às vezes as pessoas tinham de ir à cidade, para resolver um assunto, um negócio de cartório, hospital ou receber um dinheiro ou até mesmo ir numa festa. Ai eles precisavam de sapatos, e era um tal de pedir emprestado, que nunca dava certo. Foi aí que o mais velho da vila que, como tantas vezes acontece, era também o mais sábio resolveu o problema. Ele abriu uma tenda  de aluguel  de sapatos bem na entrada da vila. Instalou-se à sombra de uma grande árvore, e em seus galhos pendurou todo o tipo de sapatos: sandálias, chinelos, alpargatas, botas, botinhas, sapato alto, fechado atrás, aberto atrás, sapato de casamento, pra enterro, de todas as cores, tipos e tamanhos. As pessoas alugavam os sapatos que queriam, iam pra cidade resolver assuntos e, na volta, devolviam. Sim claro tinha um aluguel. Você sabe qual era o aluguel?

No fim da tarde, depois que todo mundo tinha terminado o serviço, tomado banho de rio e jantado, todo o povo da vila se reunia para ouvir as pessoas que tinha alugado os sapatos contar com todos os detalhes, por onde aquele sapato tinha andado. E você, saberia contar a história por onde os sapatos andaram nas jornadas da vida? Como seria?

 

E todos, embaixo do pé de jambolão, foram felizes...

 

Palavras-chave

Histórias; Resgate de memórias culturais e afetivas; Despertar o prazer pela leitura.

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